===== A Equação de Van der Waals ===== Para descrever fluidos a altas temperaturas utilizamos a equação de estado **PV=nRT** que relaciona a pressão, o volume e a temperatura de uma dada quantidade **n** de moles do fluido. A baixas temperaturas (ou altas pressões) fluidos usuais sofrem uma mudança de fase termodinâmica, explicada somente quando levamos em consideração a interação intermolecular. O efeito médio destas interações resulta em correções ao gás ideal. A equação de Van der Waals (escrita aqui para um mol de fluido) \left(p+\frac{a}{v^2}\right)(v-b)=RT descreve qualitativamente bem tanto a fase líquida quanto a fase gasosa, assim como a transição entre as fases. Aqui **v** é o volume por mol, e **a** e **b** são constantes associadas a propriedades do fluido (ver [[http://en.wikipedia.org/wiki/Van_der_Waals_constants_(data_page)|aqui]] valores tabelados para distintos gases). {{:marcio:home:pv_gas.gif|}} Abaixo de uma temperatura específica **Tc** as isotermas no diagrama PV apresentam uma região de coexistência, onde o fluido se separa em duas fases cujas energias livres de Gibbs por mol são necessariamente iguais **ggas=gliq**. Exatamente em Tc a região de coexistência se extingue (ou se reduz a um ponto). Determinamos **Tc** a partir de - \left(\frac{\partial P}{\partial V}\right)_{T=T_c}=0 - \left(\frac{\partial ^2 P}{\partial V^2}\right)_{T=T_c}=0 - \left(p+\frac{a}{v^2}\right)(v-b)=RT Outra forma de encontrar o ponto crítico é reescrevendo a equação de terceiro grau para V na forma de um polinômio com raízes triplamente degeneradas e comparando com os termos da equação de Van der Waals - (V-V_c)^3=V^3-3V^2 V_c+3V {V_c}^2 - {V_c}^3=0 - V^3-\left(b+\frac{RT_c}{P_c}\right)V^2 + \frac{a}{P_c}V - \frac{ab}{P_c}=0 Encontramos que P_c=a/27b^2,V_c=3b e RT_c=8a/27b. Veja [[http://en.wikipedia.org/wiki/Critical_point_(thermodynamics)#Table_of_liquid-vapor_critical_temperature_and_pressure_for_selected_substances|aqui]] uma tabela com valores de parâmetros críticos para diferentes fluidos. Reescrevendo a equação de estado em termos das variáveis T^{*}=T/T_c,P^{*}=P/P_c e V^{*}=V/V_c obtemos a equação universal \left(P^{*}+\frac{3}{{V^{*}}^2}\right)(V^{*}-1/3)=\frac{8}{3}T^{*} Para representar as diferentes isotermas no diagrama de Clayperon podemos resolver a equação cúbica em *V* para um dado *T* fixo. Buscando uma referência de cálculo numérico, como "Numerical Recipes in Fortran", W.H. Press, S.A. Teukolsky, W.T. Vetterling, B.P. Flannery, 2nd Edition, Cambridge Univ. Press, (1992), p. 179. vemos que dado o polinômio x^3 + ax^2 + bx + c = 0, calculamos as quantidades auxiliares Q= (a^2-3b)/9 R= (2a^3-9ab+27c)/54 Se (R2 < Q3) o polinômio possui 3 raízes reais distintas. Sendo \theta=arcos\left(R/\sqrt{Q^3}\right) escrevemos as 3 raízes como v_1=-\left(2\sqrt{Q} \cos\frac{\theta}{3}\right ) - a/3 v_2 = -\left(2\sqrt{Q} \cos\frac{\theta + 2\pi}{3}\right ) - a/3 v_3 = -\left(2\sqrt{Q} \cos\frac{\theta - 2\pi}{3}\right ) - a/3 Caso (R2 > Q3) só existe uma raiz real. Calculamos S=-sgn(R)\left(abs(R)+\sqrt{M}\right)^{3/2} e M=R^2-Q^3 onde sgn(x)=1 se x>0 e -1 se x<0 e abs(x) é o valor absoluto de x. A raiz é dada então por v=T+S- a/3 onde T=Q/S (com T=0 se S=0). Vemos então que, para Tc, temos uma região do gráfico PV com 3 valores de v para cada valor de p. Parte desses valores (entre V1 e V2) se econtra em uma região onde a compressibilidade \kappa_T=-1/v \left(\frac{\partial v}{\partial p}\right)_T é negativa, representando o limite de estabilidade mecânica. {{:marcio:home:van_der_waals_pfcorrection.png|?60%}} Para corrigir a teoria de Van der Waals adotamos a construção de Maxwell, que equivale a restaurar a concavidade da energia livre de Helmholtz F=U-TS. Os valores de v que definem a secante que "corrige" a energia livre de Helmholtz são identificados com os limites da região de coexistência, vl e vg. Como as duas fases coexistentes se encontram em equilíbrio à mesma temperatura e pressão, gliq=ggas, com g=u-Ts+Pv ou g=f+Pv (as variáveis com letra minúscula estão normalizadas pelo número de moles), f_l-f_g=\bar{P}\left(v_g-v_l\right) Sendo \left(\frac{\partial f}{\partial v}\right)_T = -P temos que f=- \int P dv \to f=- \frac{8}{3}\log(v-1/3)-\frac{3}{v} + K(T) e obtemos que -8/3 T \ln\left(\frac{v_l-1/3}{v_g-1/3}\right) -\frac{3}{v_l} + \frac{3}{v_g} = \bar{P}\left(v_g - v_l) Note que isso equivale a dizer que as áreas definidas pela curva de Van der Waals e o retângulo definido por vl e vg devem ser iguais. Assim, obtemos as curvas isotermas calculando, para cada valor de P entre limites desejados, o(s) valor(es) de V calculando as raízes pelo método acima. Para obter os valores de vl e vg associados com os limites da região de coexistência verificamos, quando Tc, se a igualdade acima é satisfeita. Caso isso aconteça, identificamos as duas raízes extremas com Vl e Vg. Como não variamos continuamente a pressão, mas sim a incrementaremos de valores fixos e pequenos dP, assumimos uma tolerância na igualdade acima: para dP muito pequeno, a variação da área do quadrado do lado esquerdo da equação acima vale no máximo dS\approx dP*(v_g - v_l). Fixamos a tolerância em metade desse valor. Quantidades de interesse que podemos obter com o procedimento acima: * Isotermas no diagrama PV * Curva de coexistência * Variação de entropia Sg-Sl para diferentes temperaturas. * Calor latente como função da temperatura. {{:marcio:home:coexistence.png|}} {{:marcio:home:clayperon.png|}} Curiosidades: * [[http://www.es.ucl.ac.uk/research/pig/pig/research.htm|Diagrama de fases do gelo]] e [[http://arxiv.org/abs/0906.2489|uma nova fase termodinâmica do gelo]]. * [[http://arxiv.org/pdf/0806.1147|Transformadas de Legendre em Física]] * [[http://scitation.aip.org/getabs/servlet/GetabsServlet?prog=normal&id=AJPIAS000069000004000423000001&idtype=cvips&gifs=yes|Definições para o potencial químico]] ----------------------------------------------------------------------- Códigos em C e Perl para obtenção dos resultados acima: {{:marcio:home:programas.tar.gz|Download}}